Foto: Joédson Alves
O Carnaval de Brasília tem se consolidado como uma manifestação vibrante e diversa, refletindo a pluralidade cultural da capital. Neste ano, a festa trouxe inovações e desafios, com blocos tradicionais e novos formatos de ocupação dos espaços públicos. A proposta do governo local de reorganizar a folia em territórios específicos gerou debate entre foliões e organizadores.
Mistura de ritmos e resistência cultural
Com um perfil único, o Carnaval do Distrito Federal une tradição e inovação. O bloco Aparelhinho, que arrastou foliões pelo Setor Bancário Sul, exemplifica essa fusão sonora ao misturar frevo, marchinhas e samba com música eletrônica brasileira, africana e dos Balcãs. Para Rodrigo Barata, um dos idealizadores do bloco, a iniciativa busca democratizar o Carnaval de rua, oferecendo uma festa gratuita e acessível a todos.
Brasília tem visto sua identidade carnavalesca em construção, incorporando ritmos populares do Brasil profundo, como o piseiro e o brega funk. Para a professora de arquitetura e urbanismo da UnB Maria Fernanda Derntl, essa ocupação festiva dos espaços urbanos contribui para a formação da identidade cultural da cidade. “O Carnaval é uma intervenção urbana espontânea que reafirma o direito à cidade e à folia”, analisa.
Blocos tradicionais e mudanças de percurso
As novas diretrizes do governo do DF para o Carnaval deste ano incluíram a criação de três territórios oficiais para a folia: o Gran Folia, na Esplanada dos Ministérios; o Setor Carnavalesco Sul, no Setor Comercial Sul; e a Plataforma da Diversidade, no Eixo Cultural Ibero-americano. Segundo a Secretaria de Cultura, a medida visa otimizar os serviços e garantir mais segurança.
No entanto, nem todos os blocos receberam bem a mudança. O Galinho de Brasília, com 33 anos de tradição, teve seu desfile deslocado para a Esplanada dos Ministérios, o que gerou preocupação quanto à acústica para sua orquestra de frevo. “O frevo precisa da ressonância dos espaços menores. O som se perde muito em áreas abertas”, lamenta Romildo Carvalho, presidente do bloco.
Já o bloco Vai Quem Fica optou por manter sua tradição de sair sem localização fixa, divulgando o ponto de concentração por meio de pistas enigmáticas em poemas. Para o jornalista Manuel Carlos Montenegro, a setorização do Carnaval limita a espontaneidade da festa. “O Carnaval de rua sempre teve essa dinâmica livre. Não é ilegal amigos se reunirem para tocar e dançar”, afirma.
O desafio da gestão do Carnaval
A urbanista Maria Fernanda Derntl destaca que cidades pelo mundo testam diferentes modelos de organização do Carnaval, e Brasília ainda busca o equilíbrio entre segurança e espontaneidade. “É fundamental garantir infraestrutura sem descaracterizar a natureza popular e democrática da festa”, aponta.
Com tensões e adaptações, o Carnaval do DF segue crescendo e se consolidando como um dos mais diversos do país, refletindo a identidade cultural em constante evolução da capital federal.