Foto: Paulo Pinto
O “Maracatu nação“, uma das mais tradicionais manifestações culturais de Pernambuco, está mais perto de receber um reconhecimento internacional. O governo brasileiro enviou à Unesco o dossiê que pleiteia o título de “Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade” para o chamado baque virado, estilo característico do maracatu. A decisão do comitê intergovernamental da Unesco deve sair até o fim de 2026.
Reconhecido nacionalmente desde 2014 pelo “Iphan”, o “Maracatu nação” expressa a ancestralidade africana e a resistência negra por meio de cortejos, trajes majestosos e forte religiosidade de matriz afro-brasileira. A manifestação é comum durante o Carnaval, principalmente na Região Metropolitana do Recife, com grupos de Olinda, Igarassu e Jaboatão dos Guararapes.
Patrimônio vivo e ancestralidade:
O pedido à Unesco foi elaborado com a participação de mestres de maracatu, do Iphan, da Fundarpe e de associações como a “AMO” (Associação de Maracatus de Olinda) e a Amanpe. Para o mestre Nilo Oliveira, coordenador de comunicação da “AMO” e fundador do “Maracatu nação Maracambuco“, o reconhecimento internacional seria um marco importante.
“É um processo longo, feito com cuidado, ouvindo os mestres e respeitando as particularidades de cada grupo. Para a gente, é gratificante ver esse caminho sendo trilhado”, afirmou. No Maracambuco, a Calunga, figura central do cortejo, se chama Isabel Arruda de Oliveira, reverenciada como símbolo espiritual e identidade do grupo.
Já o mestre Fabiano Pedro da Silva, do “Maracatu nação tigre”, vê o momento como uma conquista coletiva. “É muito importante para todos os maracatus, principalmente para o estado de Pernambuco, que agora tem maracatus espalhados pelo Brasil e pelo mundo”, disse. O “Nação tigre” existe desde 1975 e mantém suas raízes no bairro de Peixinhos, em Olinda.
Reconhecimento sem retorno?
Apesar da expectativa, nem todos os mestres estão otimistas. Danillo Mendes, que comanda o “Maracatu encontro do dendê”, alerta que o reconhecimento precisa vir acompanhado de políticas públicas eficazes.
“Já fomos tombados pelo Iphan, mas os recursos e ações do plano de salvaguarda não chegam até a gente. O incentivo é quase inexistente, e seguimos enfrentando dificuldades para manter os grupos ativos”, criticou.
Segundo ele, os custos de se colocar um maracatu na rua continuam elevados e o apoio governamental é insuficiente. Além disso, há críticas sobre a estrutura dos concursos de agremiação durante o Carnaval, considerados precários por integrantes de diversas nações.
Difusão e resistência:
Mesmo com os desafios, o Maracatu Nação segue crescendo. A tradição já ultrapassou as fronteiras de Pernambuco e do Brasil, com registros de grupos em países como Canadá, Estados Unidos, França e Alemanha.
Caso o reconhecimento da Unesco seja confirmado, o Brasil somará oito bens culturais na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Atualmente, fazem parte: o samba de roda do Recôncavo Baiano, as expressões dos Wajapis, o frevo, o Círio de Nazaré, a roda de capoeira, o Bumba Meu Boi do Maranhão e o modo de fazer o queijo minas artesanal.