Foto: Angêlo Miguel
Dados divulgados pelo “Censo Escolar 2024” mostram avanço importante na inclusão, mas especialistas alertam para desigualdades ainda persistentes.
Pela primeira vez na história, o número de crianças negras em creches brasileiras superou o de crianças brancas. De acordo com o Censo Escolar 2024, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), crianças negras representam 40,2% das matrículas nas creches do país, enquanto as brancas somam 38,3%. Em 2023, a diferença ainda era pequena: 34,7% de crianças negras e 35,1% brancas.
O avanço é ainda mais expressivo nas creches públicas, onde a presença de crianças negras saltou de 38% para 45%. Para a diretora executiva da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Mariana Luz, o dado é histórico, mas ainda insuficiente diante do cenário de desigualdades.
“Sabemos que essas crianças são as mais vulnerabilizadas e deveriam ser prioridade na inclusão escolar. Esse crescimento é importante, mas poderia ser maior como parte de um processo de reparação”, destaca Mariana.
Educação infantil como oportunidade transformadora:
A educação infantil é apontada por especialistas como uma das etapas mais decisivas no desenvolvimento de uma criança. Até os seis anos de idade, 90% do cérebro humano já está formado, e cada estímulo certo pode influenciar positivamente toda a trajetória educacional e de vida.
“Quando a criança recebe uma educação de qualidade nessa fase, ela tem mais chances de aprender até três vezes mais ao longo da vida”, afirma a especialista.
O Censo também mostra que o Brasil segue avançando nas matrículas da educação infantil, com crescimento de 1,5% na etapa das creches. Atualmente, 59% das crianças frequentam em tempo integral, o que é considerado positivo. No entanto, o percentual total de cobertura ainda está abaixo da meta prevista no Plano Nacional de Educação, que estipula 50% de cobertura até 2024. Hoje, esse número está em 38,7%.
Desigualdade persiste:
Apesar dos avanços, houve queda de 0,6% na pré-escola e sinais de estagnação nas matrículas em creches. Crianças em situação de vulnerabilidade continuam sendo as mais afetadas pela exclusão escolar.
Segundo Mariana Luz, é urgente uma mobilização nacional, com responsabilidade compartilhada entre municípios, estados e União, para ampliar o acesso e a qualidade da educação infantil.
“Precisamos enxergar essa fase da vida como a maior janela de oportunidade para quebrar ciclos de pobreza e desigualdade no Brasil”, finaliza.