Guiada pelo bandolim ligeiro de Hamilton de Holanda e com uma levada mais para o lado do choro e dos batuques do Recôncavo baiano, “Que tal um samba?” condensa em menos de quatro minutos várias das questões do país na atualidade. Canção nos moldes daquelas do melhor Chico político, ela reivindica para o mais brasileiro dos estilos musicais a missão de “espantar o tempo feio”, “remediar o estrago”, “esconjurar a ignorância”, “desmantelar a força bruta” e “alegrar o dia”.
Ao longo da relativamente extensa letra, o cantor e compositor passeia pelo novo momento do samba do Rio (no Cais do Valongo, na Pedra do Sal e nas rodas da Gamboa) e sugere puxar “um samba porreta” depois de tanta mutreta, cascata, derrota, demência “e uma dor filha da puta”. A esperança brilha nos versos em que Chico propõe “fazer um filho”, “criar um filho num bom lugar, numa cidade legal”, “um filho com a pele escura (…) bem brasileiro”, “não com com dinheiro, mas a cultura”.