Foto: Marcelo Casal
Embora o uso de remédios esteja associado à prevenção e ao tratamento de doenças, os efeitos colaterais de certas medicações podem afetar diretamente a habilidade de dirigir. A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) emitiu um alerta importante sobre o tema.
A entidade publicou uma diretriz de conduta médica que avalia o uso de diversos medicamentos – especialmente aqueles que contêm substâncias psicoativas – e suas consequências para quem vai conduzir veículos.
O documento destaca a associação entre o uso de medicamentos, o desempenho na condução veicular e acidentes, com foco predominante nos ansiolíticos, sedativos, hipnóticos, antidepressivos, analgésicos opióides e anti-histamínicos.
Outros medicamentos prescritos e/ou adquiridos sem prescrição também podem afetar a capacidade de condução segura, como anfetaminas, antipsicóticos e relaxantes musculares.
A Abramet, em nota, informou que a diretriz, destinada a médicos do tráfego e demais profissionais do sistema de saúde, tem como objetivo orientar políticas públicas, chamando a atenção para os cuidados que o paciente deve ter ao assumir a direção.
A entidade ressalta que os efeitos do uso de remédios sobre a condução devem ser considerados também pelas autoridades do Executivo e Legislativo.
Recomendação e Preocupações
Em 2009, a associação recomendou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a utilização de um símbolo de alerta nas embalagens dos chamados “Medicamentos Potencialmente Prejudiciais ao Condutor de Veículos Automotores”.
A preocupação da Abramet vem da observação do cenário nacional: dados mostram que a compra de remédios já responde por 6,5% dos gastos das famílias brasileiras.
O Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos divulgou que a venda de medicamentos psiquiátricos disparou no Brasil após a pandemia de covid-19: o consumo de remédios para ansiedade cresceu 10% de 2019 a 2022; o de sedativos, usados para dormir, aumentou 33%; e o de antidepressivos saltou 34%.
Legislação e Classificação de Substâncias
Em 2015, o consumo de remédios foi incluído entre os fatores de risco para sinistros de trânsito pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Já em 2018, a Organização das Nações Unidas (ONU) incorporou esse entendimento em uma resolução sobre segurança viária.
No Brasil, até o momento, nenhuma legislação aborda os riscos da interface entre medicamentos e a direção de veículos, destaca a Abramet.
A diretriz avalia um conjunto de medicamentos comumente usados pela população e aponta os riscos associados à direção segura. No documento, a Abramet apresenta a classificação de diversos princípios ativos no quesito segurança.
Efeitos Prejudiciais à Direção
- Antidepressivos: sonolência, hipotensão, tontura, diminuição do limiar convulsivo, prejuízo nas funções psicomotoras;
- Anti-histamínicos: sedação, aumento do tempo de reação e desempenho psicomotor prejudicado;
- Benzodiazepínicos: quase todos os domínios cognitivos do desempenho do condutor são afetados;
- Hipnóticos Z: sedação, lapsos de atenção, erros de rastreamento, diminuição do estado de alerta, instabilidade corporal;
- Opiáceos: sedação, diminuição do tempo de reação, de reflexos e de coordenação, déficit de atenção, miose (pupilas contraídas) e diminuição da visão periférica.
Orientações
A Abramet oferece um conjunto de orientações não apenas para médicos do tráfego, mas também para os demais profissionais de saúde que prescrevem medicamentos e para os próprios motoristas usuários dessas medicações.
Ao médico do tráfego, a Abramet define um passo a passo no exame de aptidão, destacando os pontos de atenção a serem observados pelo especialista.
A entidade ressalta que não cabe ao médico do tráfego questionar o uso de medicamentos pelo candidato a condutor, mas sim avaliar os riscos e informá-los.
Para o médico que prescreve a medicação, a associação recomenda informar aos pacientes os impactos potenciais sobre a condução veicular e orientar sobre o cuidado redobrado durante o uso do remédio.
A Abramet reforça a importância de optar por prescrever medicamentos que tenham demonstrado ser desprovidos de efeitos prejudiciais sobre a capacidade de condução.
Por fim, a entidade faz um alerta aos motoristas, esclarecendo quais tipos de medicamentos podem afetar sua capacidade de dirigir e recomendando que sempre perguntem ao médico se o medicamento prescrito pode prejudicar a direção.