Um dos últimos redutos do cinema de rua no Brasil, o emblemático Cine Brasília, localizado na entrequadra 106/107 da Asa Sul, fechou temporariamente suas portas no início de fevereiro para passar por um processo de reforma. Segundo informações fornecidas pelo governo do Distrito Federal (GDF), a medida visa garantir melhorias estruturais e de acessibilidade ao prédio histórico, que desfruta de uma posição ímpar na cena cultural da capital brasileira.
Apesar da necessidade de tais melhorias, a falta de um cronograma detalhado para as obras e a ausência de um diálogo mais amplo com a sociedade civil têm gerado apreensão entre os frequentadores assíduos, cineastas e demais profissionais do cinema no Distrito Federal. A última sessão, marcada pela exibição do filme nacional “Ó Paí, Ó 2”, protagonizado pelo aclamado ator Lázaro Ramos, ocorreu no dia 7 de fevereiro, pegando muitos de surpresa, como contou Zelma da Luz, professora de história que frequentava o local. A importância do Cine Brasília como um espaço de exibição de filmes alternativos, acessíveis ao público brasiliense, é ressaltada por Paiva, destacando sua relevância no cenário cultural da cidade.
O cineasta Adirley Queirós, membro do coletivo Cine em Ceilândia, enfatiza em matéria do Brasil de Fato, o papel essencial que o cinema desempenha como um equipamento público, clamando por uma maior atenção por parte do Estado. Ele aponta para a necessidade de transparência no planejamento das obras, questionando a falta de divulgação de informações precisas sobre prazos e fontes de financiamento. Essa mesma preocupação é compartilhada pelo produtor-executivo Vittor Pinheiro, que destaca a relevância do Cine Brasília não apenas para o Distrito Federal, mas para todo o Brasil, como sede do renomado Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
O prédio do Cine Brasília, projetado pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer e inaugurado em 1960, é considerado um dos mais importantes espaços de projeção cinematográfica da América Latina, ostentando o título de Patrimônio Mundial da Humanidade desde 1987. Sua reforma, prevista para durar até 90 dias, inclui melhorias na acessibilidade dos banheiros, substituição de partes elétricas e hidráulicas, além de reparos no telhado e nas áreas externas. O investimento estimado para essa empreitada é de R$ 1,5 milhão, proveniente da Lei Paulo Gustavo e de recursos próprios da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec).
Apesar das preocupações levantadas pelos frequentadores e profissionais do cinema, a iniciativa de reformar o Cine Brasília demonstra um compromisso em preservar e fortalecer esse importante patrimônio cultural. Resta agora aguardar uma maior transparência por parte do governo do Distrito Federal, garantindo que as obras sejam realizadas de forma eficiente e que o espaço possa continuar contribuindo significativamente para a vida cultural da cidade e do país como um todo.