Governo responde com ironia às críticas dos EUA ao Pix e reafirma soberania digital brasileira

Foto: Bruno Peres

A mais recente tensão entre Brasil e Estados Unidos revela que a disputa pela hegemonia também se dá no campo da inovação digital. O governo brasileiro respondeu, com uma nota nas redes sociais, à abertura de investigação comercial por parte do Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) sobre o incentivo brasileiro ao uso do Pix. O tom da resposta chamou atenção: foi direto, irônico e ancorado em símbolos da cultura popular brasileira.

A publicação do Palácio do Planalto no Instagram afirmava:

“O Pix é nosso, my friend”,
acompanhada de uma arte com forró eletrônico e uma narrativa que destacava o ciúme gerado pelo sucesso do sistema. A postagem viralizou nas redes, mas o pano de fundo é mais complexo.

O que está em jogo?

A investigação dos EUA questiona se o incentivo ao Pix prejudica empresas americanas que atuam com serviços financeiros digitais no Brasil. O governo norte-americano sustenta que a adesão massiva ao sistema, gratuito e instantâneo, teria impacto negativo sobre a competitividade de empresas internacionais no país.

Criado pelo Banco Central do Brasil em 2020, o Pix já conta com mais de 175 milhões de usuários e tornou-se, em poucos anos, o principal meio de pagamento utilizado no país. Ele representa um caso raro de tecnologia pública bem-sucedida e com forte adesão social, o que tem sido visto com desconfiança por grandes players do setor financeiro global.

Reação institucional e política

Além da publicação nas redes, autoridades brasileiras reagiram oficialmente. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil – AP), classificou a medida americana como “uma agressão ao Brasil e aos brasileiros” e afirmou que o Parlamento atuará em conjunto com o Executivo. Hugo Motta (Republicanos–PB), presidente da Câmara, afirmou que o Congresso está pronto para agir de forma ágil em defesa dos interesses nacionais.

O vice-presidente Geraldo Alckmin também se manifestou, reforçando que o modelo do Pix é uma referência internacional e que o verdadeiro problema está nas tarifas impostas pelos EUA — e não no sistema brasileiro.

Um debate sobre soberania

Por trás da polêmica, está uma discussão maior: a autonomia digital dos países do Sul Global e o direito de implementar soluções públicas que atendam aos interesses locais. O sucesso do Pix incomoda porque rompe com o padrão de intermediação financeira tradicional — majoritariamente dominado por empresas estrangeiras — e demonstra a capacidade do Estado brasileiro em criar e operacionalizar uma infraestrutura digital eficaz.

O episódio evidencia como tecnologias nacionais bem-sucedidas podem se transformar em alvos de pressões diplomáticas e comerciais. A escolha do governo brasileiro por uma resposta bem-humorada não esconde o recado político: o Pix tornou-se um símbolo de soberania tecnológica e inclusão financeira e sua defesa, um ponto de unidade nacional.