Foto: Frame TV Brasil
O Brasil se despede de um dos maiores ícones do cinema nacional. Cacá Diegues faleceu aos 84 anos, nesta sexta-feira (14/02/2025), deixando um legado imenso para a cultura brasileira. Considerado um dos maiores responsáveis pela criação da linguagem do “Cinema novo”, Diegues não apenas fez história nas telas, mas também foi um dos principais arquitetos da forma como o Brasil é visto pelo cinema mundial.
Em entrevista à TV Brasil em 2018, o cineasta afirmou: “Nós praticamente inventamos um cinema para o Brasil”. Essa invenção veio da busca por uma imagem genuína do Brasil, sem recorrer a fórmulas prontas ou clichês. Sem uma tradição cinematográfica robusta à qual se apoiar, ele e seus colegas do “Cinema novo”, como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Leon Hirszman, criaram um cinema que, mais do que entreter, queria provocar o pensamento e estimular a reflexão.
A força do Cinema novo
Ao lado de outros nomes fundamentais, Cacá Diegues foi uma das peças-chave de um movimento que revoluciona o cinema brasileiro nos anos 60. Produzindo filmes autorais, de baixo custo, mas com um impacto enorme, o cineasta se preocupava em contar histórias que estivessem enraizadas nos problemas sociais do país. Entre suas obras mais marcantes estão “Ganga Zumba (1964)”, “A Grande Cidade (1966)”, “Xica da Silva (1976)”, “Bye Bye, Brasil (1980)”, “Deus é Brasileiro (2002)”, entre outras. Filmes que misturam crítica social, cultura brasileira e um olhar único sobre as desigualdades.
Com “Xica da Silva”, filme que projetou a atriz Zezé Mota internacionalmente, Cacá levou mais de 3 milhões de brasileiros ao cinema em uma época sem a internet e com poucas opções de entretenimento. A obra e sua abordagem sobre a vida de uma mulher negra, ex-escrava, que se torna poderosa, foi um divisor de águas na construção de imagens de resistência e força feminina no Brasil.
Reflexões e esperança no cinema
Em sua trajetória, Cacá Diegues sempre foi um exemplo de dedicação e esperança. Para ele, o cinema não era uma ferramenta de mudança instantânea, mas uma forma de pensar o mundo de outra maneira. “Um filme não muda nada, mas é uma maneira de pensar o mundo de outro modo; de provocar pensamentos mais originais”, disse em entrevista. Com essa filosofia, ele se tornou uma figura respeitada e querida no Brasil e fora dele, sempre atento ao novo e com uma curiosidade que nunca envelheceu.
Apesar de reconhecer as dificuldades e contradições do país, Diegues era um homem esperançoso. Para ele, o sucesso não vinha do acaso, mas sim do trabalho árduo e da constante busca pela realização de projetos que realmente fizessem a diferença.
A homenagem de quem ficou
A morte de Cacá Diegues gerou uma onda de tributos por parte de artistas, intelectuais e políticos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a importância do cineasta em projetar a história e a cultura do Brasil para o mundo. A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também lembrou a relevância de sua obra para a construção da nossa identidade.
Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura, celebrou o amigo e membro da Academia Brasileira de Letras, dizendo: “Descanse em paz, grande amigo imortal.” Já a atriz Zezé Mota, protagonista de “Xica da Silva”, relembrou com carinho e gratidão o trabalho com o cineasta, que a transformou em um ícone do cinema nacional.
O legado de Cacá Diegues
O legado de Cacá Diegues transcende suas obras. Ele contribuiu para a construção de uma imagem do Brasil nas telas que é tanto poética quanto crua, cheia de complexidade e beleza. Seu trabalho reverbera não só no cinema, mas também na nossa cultura, sendo um símbolo da resistência do cinema nacional diante das adversidades. Seu olhar crítico e criativo sobre o Brasil não será esquecido.
Mesmo com sua partida, o cinema brasileiro continua a ser marcado pela sua visão e os frutos de seu trabalho. Cacá Diegues não vai deixar de nos inspirar e de nos fazer refletir sobre o Brasil, com todos os seus contrastes e belezas. Seu cinema vive, e seu legado permanece imortal.