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Ao longo dos 65 anos de Brasília, muita coisa mudou, menos o espírito de quem ajudou a construir a capital com as próprias mãos. São histórias que não aparecem nos cartões-postais, mas seguem vivas nas feiras, nas periferias e no sotaque nordestino que ecoa pelas cidades-satélites.
Para o historiador Deusdedith Júnior, professor do Centro Universitário de Brasília (CEUB), a Brasília que pulsa no cotidiano vai além do concreto e do urbanismo modernista. “Brasília não foi feita apenas de concreto, mas de persistência. Quando o último prédio ficou de pé, os candangos não voltaram para casa. Eles resistiram e inventaram novas Brasílias”, destaca.
Vindos principalmente do Nordeste, esses trabalhadores chegaram ao Planalto Central em caminhões, ônibus e até a pé, fugindo da seca, da fome e do abandono. Na mala, traziam esperança. Aqui, viraram operários, muitos sem qualquer experiência anterior com construção. “Eram trabalhadores que se tornaram operários enquanto construíam a cidade. Aprenderam a fazer Brasília fazendo”, explica o especialista.
O projeto da nova capital nasceu com a promessa de modernidade, mas também carregou desigualdades que se mantêm até hoje. “Existe uma Brasília que não cabe nos marcos do Plano Piloto. Ela está nas bordas, nos bairros populares, nos nomes que resistem. Ainda hoje, pulsa uma cidade invisível, mas essencial para entender o que Brasília realmente é”, afirma o professor.
Para além dos monumentos, a cidade também é feita de gente como João, Maria, Severino e tantos outros nomes que ficaram fora das placas, mas não da história. “Ao completar 65 anos, Brasília carrega o suor de homens e mulheres que moldaram essa cidade com suas próprias mãos, mesmo sem ver seus nomes gravados nos mármores do poder.”
O espírito candango segue vivo. E Brasília, em toda a sua complexidade, também é feita das memórias, das lutas e das resistências de quem nunca deixou de construir novas formas de existir por aqui.