Poucas canções conseguem traduzir tão bem o sentimento de pertencimento e, ao mesmo tempo, exclusão como “Cidadão”, obra do poeta baiano Lúcio Barbosa. Escrita na década de 1970, a música nasceu de uma experiência pessoal do compositor, que homenageou seu tio Ulisses, pedreiro responsável pela construção de igrejas e outros edifícios importantes. Paradoxalmente, ele não podia frequentar muitas dessas obras, devido às regras de exclusividade social e religiosa que prevaleciam na época.
A canção é um retrato sincero e emocionante da luta do trabalhador comum, cujo esforço constrói a sociedade, mas que, muitas vezes, permanece à margem dos espaços que ajudou a erguer. Seu refrão impactante, “Tá vendo aquele edifício, moço? Eu ajudei a levantar”, é um grito de reconhecimento, reivindicando respeito e dignidade para os trabalhadores que constroem os alicerces físicos e simbólicos do mundo.

As vozes que eternizaram “Cidadão”
Gravada pela primeira vez em 1979, a música ganhou voz com Zé Geraldo no álbum Terceiro Mundo. Com sua interpretação, Zé Geraldo trouxe à tona a força poética e crítica da obra, que começou a conquistar o público pela autenticidade e conexão com a realidade brasileira.
Em 1992, “Cidadão” ganhou ainda mais notoriedade ao ser gravada por Zé Ramalho no álbum Frevoador. A versão de Zé Ramalho, com sua voz grave e intensa, consagrou a canção como um marco na música popular brasileira. Desde então, diversos artistas, como Sérgio Reis, Luiz Gonzaga e Silvio Brito, também interpretaram a música, ampliando seu alcance e importância cultural.
“Cidadão”: da exclusão à representatividade
Ao longo dos anos, “Cidadão” se tornou um hino de luta e resistência, principalmente entre as classes trabalhadoras. Mais do que uma música, ela é uma narrativa coletiva, que expõe desigualdades e, ao mesmo tempo, exalta a contribuição dos trabalhadores para o desenvolvimento do país.
A simplicidade melódica da canção, unida à profundidade de sua letra, transcende gerações, reafirmando sua relevância no cenário cultural e social. Em tempos em que o debate sobre direitos trabalhistas e inclusão ganha força, “Cidadão” segue como um poderoso lembrete de que toda obra erguida reflete o suor de quem a construiu.
A série “A história dessa música” no CidadeCult
A música é um espelho do nosso tempo, e as histórias por trás das canções revelam nuances que vão além das melodias. “Cidadão” inaugura a nova série do CidadeCult, “A história dessa música”, que irá explorar a trajetória de grandes clássicos da música brasileira, revelando os contextos e as histórias que os tornaram eternos.
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