Por Renata Nandes
Roger Waters fez mais do que simplesmente estrear sua turnê “This is Not a Drill” no Brasil; ele ofereceu ao público de Brasília uma experiência multidimensional que transcendeu o mero entretenimento musical. No estádio Mané Garrincha, o lendário músico proporcionou uma noite inesquecível, combinando seu catálogo icônico com uma crítica política perspicaz e consciente.
O show começou com uma declaração audaciosa projetada no telão: “Se você é um daqueles que diz: ‘Eu amo o Pink Floyd, mas não suporto a política do Roger’, você pode muito bem se retirar para o bar agora.” Essa afirmação preparou o terreno para um evento que não se limitaria a solos de guitarra e efeitos visuais deslumbrantes; seria também um espaço para o diálogo e a conscientização.
Em seu repertório, Waters equilibrou clássicos como “Another Brick in the Wall” e “Wish You Were Here” com temas que talvez não sejam os mais conhecidos, mas que carregam significados profundos. Cada canção foi habilmente costurada com elementos de seu ativismo, desde a defesa dos direitos de comunidades marginalizadas—indígenas, LGBTQIA+— até críticas diretas a figuras políticas globais, como presidentes americanos que ele não hesitou em chamar de criminosos de guerra.
Um dos momentos mais comoventes da noite foi a homenagem a Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018. Waters não se contentou em ser um mero visitante em nosso país; ele abraçou causas locais, mostrando um engajamento que vai além de gestos superficiais.
Outro ponto alto foi quando Waters trouxe à tona o conflito na Ucrânia, sugerindo um encontro entre Joe Biden, Vladimir Putin e Zelensky. Referindo-se à sua nova música “The Bar”, ele nos lembra da importância do diálogo como um meio de evitar conflitos e buscar entendimentos.
Esse show não foi apenas uma despedida musical de um dos grandes nomes do rock, mas também uma declaração potente de que a arte pode ser uma ferramenta de transformação social. Waters prova que é possível, e necessário, alinhar o talento artístico com a coragem cívica, sobretudo em tempos de divisão e intolerância.
Em suma, Roger Waters não apenas tocou nossos corações com sua música, mas também acendeu em nossas mentes a necessidade de sermos ativos, conscientes e compassivos. Numa era onde a apatia poderia facilmente prevalecer, ele nos lembra que temos o poder e a responsabilidade de buscar um mundo mais justo. É esse o tipo de arte que não apenas entretém, mas também mobiliza—e como é raro, e necessário, encontrá-la.