Foto: Marcelo Camargo
Nos últimos 25 anos, a presença de negros e indígenas em cargos de liderança no Poder Executivo deu um passo importante. A porcentagem desses profissionais saltou de 22% para 39%. No entanto, a pesquisa “Lideranças negras no estado brasileiro (1995-2024)”, realizada pelo Núcleo Afro-Cebrap, revela que, apesar da qualificação e da ascensão, os desafios ainda são imensos para essas lideranças.
Trajetórias de superação e qualificação:
O estudo mostra que a maioria das lideranças negras no Executivo vem de origens populares. Esses profissionais, apesar das adversidades, são altamente qualificados, com formação em universidades públicas, pós-graduação e experiências internacionais. Contudo, suas histórias revelam que, embora possuam grande expertise, o caminho para alcançar posições de destaque muitas vezes é dificultado pela falta de conexões ou um “capital social” robusto, algo que, historicamente, favorece os candidatos com famílias ou redes de contatos já estabelecidas em esferas de poder.
Barreiras invisíveis e o peso da discriminação:
A pesquisa também destaca que, mesmo após atingirem cargos de relevância, muitos relatos apontam para a constante desvalorização dessas lideranças. Frequentemente, eles são descredibilizados e até confundidos com funcionários de níveis mais baixos. Um exemplo citado é de um secretário negro tratado como segurança e barrado em eventos oficiais, uma realidade ainda muito presente nos espaços públicos.
O poder das ações afirmativas:
Embora grande parte dessas trajetórias tenha sido construída sem o benefício direto das políticas afirmativas, as entrevistas apontam uma defesa forte da implementação de cotas como um passo essencial para garantir maior representatividade no serviço público. Para as lideranças entrevistadas, as cotas são um ponto de partida para superar as barreiras estruturais e garantir maior diversidade em posições estratégicas de decisão.
Pontos de virada: quando o suporte faz a diferença:
Os pontos de virada nas carreiras dessas lideranças frequentemente envolvem o apoio de outras pessoas negras em posições de poder, ou a criação de espaços como as assessorias de participação e diversidade nos ministérios, que têm sido fundamentais para dar visibilidade e oportunidade a esses profissionais, permitindo que possam contribuir de forma significativa para a construção de políticas públicas mais inclusivas e representativas.
O futuro das lideranças negras no executivo:
Essa pesquisa traz à tona um retrato das vitórias e obstáculos enfrentados por essas lideranças, apontando que, embora o cenário tenha evoluído positivamente, o caminho para uma verdadeira inclusão e igualdade de oportunidades no serviço público ainda é longo. O fortalecimento das ações afirmativas e o contínuo incentivo à diversidade nos espaços de decisão são fundamentais para garantir que as futuras gerações de líderes negros tenham um acesso justo e igualitário aos postos de poder.