Veículo: Correio Braziliense
Data: 27/07/2019
A administração do Estádio Nacional, do Ginásio Nilson Nelson e do Complexo Aquático Cláudio Coutinho ficará sob responsabilidade da Arena BsB por 35 anos. Além disso, o consórcio erguerá no local um complexo de lazer com diversas atividades
HM Helena Mader
postado em 27/07/2019 07:00 / atualizado em 27/07/2019 00:59
Vista geral da Arenaplex: complexo de lazer terá, além do estádio, do ginásio e do parque aquático, restaurantes, teatros, cinemas, casa de show, academias de ginástica e shopping center(foto: Breno Fortes/CB/D.A Press)
Vista geral da Arenaplex: complexo de lazer terá, além do estádio, do ginásio e do parque aquático, restaurantes, teatros, cinemas, casa de show, academias de ginástica e shopping center
(foto: Breno Fortes/CB/D.A Press)
O maior elefante branco da capital federal está nas mãos da iniciativa privada. Erguido ao custo de R$ 1,6 bilhão e fonte de escândalos de corrupção, o Estádio Nacional Mané Garrincha será administrado pela empresa Arena BsB pelos próximos 35 anos. O governador Ibaneis Rocha e representantes do consórcio vencedor da licitação assinaram nesta sexta-feira (26/7) o contrato de concessão pública do complexo esportivo conhecido como Arenaplex. Além do Mané, os empresários vão administrar o Ginásio Nilson Nelson e o Complexo Aquático Cláudio Coutinho.
O negócio prevê ainda a construção de um grande complexo de lazer na área central de Brasília, com restaurantes, teatros, cinemas, casa de show, academias de ginástica e shopping center. O chamado Boulevard Monumental terá 150 mil metros quadrados de área construída, com edificações de até 12 metros. As regras de ocupação estão previstas na Lei Complementar nº 946/2018, aprovada pela Câmara Legislativa no ano passado. A empresa Arena BsB vai lançar nas próximas semanas um concurso de arquitetura para escolher o projeto do empreendimento.
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Nos primeiros seis meses, haverá uma gestão compartilhada com a Agência de Desenvolvimento de Brasília (Terracap). Único interessado no negócio, o consórcio vencedor da licitação de concessão pública teve de aguardar mais de um ano até a assinatura do contrato. Questionamentos do Tribunal de Contas do Distrito Federal atrasaram a conclusão da concorrência pública, só homologada no começo do mês passado.
A proposta vencedora prevê o pagamento do valor anual de R$ 5.050.000 ao governo local, além do repasse de 5% do faturamento líquido. A concessão do Mané Garrincha à iniciativa privada tem prazo de 35 anos, mas os repasses ao GDF começam no sexto ano de contrato por causa do prazo inicial de investimentos. Com a concessão do complexo esportivo à iniciativa privada, o governo economizará quase R$ 13 milhões por ano. Esse é o custo de manutenção do Mané Garrincha, do ginásio e do complexo aquático.
A estimativa da Arena BsB é começar a construção do Boulevard Monumental no início de 2020. A primeira etapa deve ter cerca de 90 mil metros quadrados de área construída, com as edificações concentradas atrás do Ginásio Nilson Nelson, sem interferências na paisagem do Eixo Monumental. “Essa área será a grande praça de Brasília. Tudo vai respeitar o tombamento e as normas de ocupação. O nosso projeto prevê somar e nunca contrapor ou violentar o conjunto urbanístico de Brasília”, adiantou o presidente da Arena BsB, Richard Dubois.
Apesar de o gabarito permitir construções de até 12 metros de altura, o representante da empresa garante que a ideia é focar em prédios menores. “Vamos ver o que os arquitetos do concurso vão sugerir, mas a gente pensa em fazer construções mais baixas e espalhadas. Vai ser como uma praça do interior, com muito verde, muita fonte, sem carro nenhum, um lugar para as famílias andarem livremente”, detalhou Richard.
Energia solar
O presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/DF), Célio Melis, conta que a entidade foi procurada pela Arena BsB e está em processo de negociação para a realização do concurso arquitetônico. Para ele, a participação do IAB será importante, especialmente por se tratar de um espaço na área central da capital tombada. “Desde a fundação do IAB, há quase 100 anos, fazemos essa defesa de concursos. A nossa participação é importante para municiar os concorrentes das informações necessárias”, explicou. “As regras de ocupação da área foram aprovadas pelo Conplan e pelo Iphan. Não há nada que impeça a concretização dos planos divulgados até agora”, acrescentou.
Os primeiros investimentos do consórcio serão para a compra de painéis de energia solar, ao custo estimado de R$ 4,2 milhões. A compra deve gerar retorno financeiro em três anos. Ainda em 2019, também será implementado um sistema de reúso de água. O investimento previsto ao longo do prazo da concessão é de cerca de R$ 1 bilhão, dos quais 60% nos primeiros cinco anos. Como contrapartida social, o uso do Complexo Aquático Cláudio Coutinho seguirá público e gratuito.
Turismo
O governador Ibaneis Rocha destacou o potencial do projeto para fomentar o turismo na cidade e a geração de empregos. “Brasília vai gerar interesse no futebol, na área dos shows, dos esportes. Vamos transformar a capital no maior polo turístico do Brasil, da América Latina, quiçá do mundo, e, com a arrecadação de impostos, vamos conseguir suprir as necessidades da população”, afirmou o chefe do Palácio do Buriti.
Participaram da cerimônia de assinatura do contrato representantes de times brasileiros, como Flamengo, Corinthians e Botafogo. As empresas do consórcio administram 18 arenas no mundo, como a de Amsterdã, além de três das sete em construção para a Copa do Mundo do Catar, em 2022.
Escândalos
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Irregularidades na construção do Estádio Nacional Mané Garrincha levaram à deflagração da Operação Panatenaico, em 2017. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal investigaram um esquema de sobrepreço e de conluio entre as empreiteiras Odebrecht e OAS. Neste mês, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) instaurou processo administrativo para investigar a ação de um suposto cartel em processos licitatórios para construção, modernização e reforma de arenas esportivas da Copa do Mundo de 2014. Entre elas, o Estádio Nacional Mané Garrincha.
Como fica
O que prevê o projeto do Boulevard Monumental
» Além de assumir a operação e a gestão do Estádio Nacional Mané Garrincha, do Ginásio Nilson Nelson e do Complexo Aquático Cláudio Coutinho, a empresa Arena BsB poderá construir um complexo de lazer na área;
» Chamado Boulevard Monumental, o projeto terá até 152 mil metros de área construída, atrás do Ginásio Nilson Nelson;
» Será lançado um concurso de arquitetura para a escolha do projeto arquitetônico do Boulevard;
» As regras de ocupação preveem amplo leque de atividades, como comércio e serviços, além de restaurantes, teatros, cinemas, casas de show, academias de ginástica e outras atividades de entretenimento;
» A previsão da empresa é começar a construção do Boulevard Monumental no início de 2020, com conclusão no ano seguinte;
» A primeira etapa terá cerca de 90 mil metros quadrados de área construída;
* A legislação prevê prédios de até 12 metros de altura, mas o consórcio promete focar em construções mais baixas e espalhadas, com muita área verde;
Para saber mais
Regras de uso
As regras de uso e ocupação do Setor de Recreação Pública Norte, que engloba a área do Arenaplex, foram definidas pela Lei Complementar nº 946/2018, aprovada pela Câmara Legislativa no ano passado. O plano prevê novos usos para a área, com parâmetros como altura máxima de 12 metros, à exceção do ginásio e do estádio, e taxa de ocupação limite de 12% do terreno. Entre as exigências incluídas no plano de uso está a recuperação da área verde, a redução do espaço impermeabilizado, a garantia de acesso a pedestres, a construção de ciclovias e a manutenção de um corredor verde, ligando o Parque da Cidade ao Parque Burle Marx.