Na efervescência musical atual, onde novos sons e experimentações artísticas surgem a cada momento, encontramos figuras que se destacam por sua busca incessante por evolução e autenticidade. É o caso do cantor e compositor gaúcho Fael, que retorna ao cenário musical com seu segundo EP, intitulado “Questão de Tempo”. Este trabalho, lançado de forma independente, marca um ponto de inflexão em sua carreira, demonstrando um amadurecimento notável tanto pessoal quanto musical.
Diferentemente de seu primeiro EP, “Aqui e Agora” (2021), que tinha uma pegada mais voltada ao rock e MPB, “Questão de Tempo” mergulha no universo pop, com canções mais enxutas e uma rica tapeçaria sonora de beats eletrônicos, camadas e synths. O EP é composto por seis faixas, incluindo o single “Setembro”, que já conta com um videoclipe e está disponível nas principais plataformas de streaming.
Fael traz uma nova perspectiva sobre sua arte, destacando um processo criativo mais racional e refinado em comparação ao seu trabalho anterior, mais impulsivo e expansivo. Esta mudança de abordagem reflete em arranjos mais inteligentes e na exploração de novas texturas sonoras. O artista descreve seu novo projeto como uma forma de encerrar um ciclo em sua carreira, abrindo caminho para futuras explorações musicais em um álbum completo.
O EP também serve como uma ponte entre o passado e o presente do artista. Canções como “Pelas Ruas”, escrita em 2010, e “Cosmonauta” de 2013, foram recuperadas e reimaginadas, criando um universo reflexivo que se comunica com o momento atual de Fael. O tema do amadurecimento e da passagem do tempo permeia todo o EP, com músicas que exploram desde romances antigos até reflexões sobre o destino da Terra.
Musicalmente, Fael traz uma mistura eclética que vai desde influências de The Strokes e The Weeknd na faixa “Pelas Ruas”, até o pop rock dos anos 90 em “Questão de Tempo”, e contrastes de minimalismo e explosão em “Eu Não Nasci Pra Ser Herói”. Além de sua atuação como cantor e compositor, Fael também é responsável pela arte da capa do EP. A produção ficou a cargo de Cezar Tortorelli, com mixagem e masterização de Leonardo Braga. A faixa “Pelas Ruas” é uma colaboração com Gabriel Farias, e conta com a participação dos músicos Cezar Tortorelli (guitarras e violões) e Giancarlo Gaudio (baixo).
“Questão de Tempo” é um testemunho do crescimento artístico de Fael, um convite a acompanhar a evolução de um artista que não tem medo de experimentar e redefinir sua própria musicalidade.
– Como foi o processo criativo para desenvolver o EP “Questão de Tempo”?
Após o meu primeiro EP “Aqui e Agora”, em 2021, fiquei em dúvida de qual deveria ser meu próximo passo, se deveria finalmente gravar um álbum ou não. Foi então que tive a ideia de revisitar músicas antigas que nunca tinha lançado e não se encaixavam nem no que tinha lançado e nem no que pretendo fazer no futuro, mas que eu sabia que tinham qualidade e mereciam ser gravadas. “Questão de Tempo” nasceu desse processo de olhar pro passado, para as coisas que já tinham sentido há muitos anos e ressignificá-las. Também me senti mais livre para experimentar coisas diferentes com essas músicas, o primeiro EP tinha o peso de ser uma estreia e a intenção de ser uma apresentação de quem eu era; Nesse eu fiz com mais leveza e menos certezas, experimentando e ousando mais.
– Quais foram as maiores mudanças em sua abordagem musical desde seu primeiro EP?
No primeiro EP a ideia era apresentar meu som e minhas influências, era um manifesto sobre quem eu era, nesse não tinha esse objetivo, queria só fazer a música que me desse vontade. Acho que tanto eu quanto o produtor Cezar Tortorelli, que trabalhou nos dois EPs, aprendemos a ser mais sutis nesse disco. Tenho uma tendência de ser maximalista e querer colocar muitas ideias e camadas de som numa mesma música e, em retrospectiva, senti que isso prejudicou um pouco o outro EP, então nesse tentamos encontrar um equilíbrio, reduzir ao essencial para que o arranjo servisse a música sem atrapalhar a ideia principal. Outra grande mudança foi a chegada do baixista Giancarlo que fez toda diferença e deu muito mais personalidade pras linhas de baixo desse EP.
– Como você selecionou as composições antigas para este novo projeto?
Como disse, eram músicas que sabia que não se encaixariam no meu próximo projeto, mas que sabia que tinha valor e mereciam ser lançadas. Tentei juntar músicas que tivessem a passagem do tempo e o amadurecimento como temas para amarrar a ideia, em alguns casos mudei um pouco a letra das canções para que essa mensagem de amadurecimento transpareça no EP. O disco é muito sobre olhar para trás e ter orgulho do caminho antes de olhar para a frente.
– Qual é o significado por trás do single “Setembro” e seu videoclipe?
“Setembro” é a primeira música do EP e sinto que faz um pouco a ponte entre o primeiro e o segundo compacto. O primeiro era uma jornada de descobrimento e libertação e “Setembro” é justamente o fim desse percurso, o momento de liberdade em que se pode olhar pro passado como exatamente isso, o passado, e não mais um presente opressor. O clipe, dirigido por Bruno dos Anjos e com uma coreografia incrível de Jade Correa e Math Almeida, é a história de como uma pessoa pode te puxar pra cima, te tirar do poço e trazer tua primavera como na música.
– O que você espera que os ouvintes levem do seu novo trabalho?
Espero que levem essas canções consigo, que se identifiquem com essas histórias. “Questão de Tempo” é um pouco sobre fazer as pazes com seu passado e acho que isso é algo que todos devemos fazer, não temos controles sobre o que já passou, só sobre o que ainda vai acontecer. No fim acho que é um disco mais leve e otimista.